Rodas de mestres marcaram a manhã desta sexta, 25/11, no X Encontro Mestres do Mundo, em Limoeiro do Norte


O X Encontro Mestres do Mundo, realizado pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará em Limoeiro do Norte, dá continuidade à sua programação nesta sexta-feira, 25/11. Esta manhã foi marcada por um dos momentos mais especiais do encontro: as rodas de saberes e fazeres com os mestres. Um espaço para intercâmbio de conhecimentos, trocas de experiências, compartilhar de histórias, diálogo entre diferentes linguagens e nascimento de novas parcerias.

Na roda dos saberes relacionados ao corpo, os mestres se sucederam em apresentações animadas, com a participação do público, sem diferença nem cerimônia. A Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto, o mestre Aldenir do reisado, o mestre Bigode do maneiro pau, o mestre Totonho luthier de rabecas, o mestre Zé Pio do reisado e o mestre Doca, de reisado do Congo, foram alguns dos muitos participantes, que encantaram o público, formando uma grande roda, aberta a todos que desejam compartilhar, aprender, ensinar, dançar, cantar, experimentar e conjugar a vida.

Já na roda de saberes da oralidade e do sagrado, participaram mestres como Dona Dina vaqueira de Canindé, Maria do Horto dos benditos de Juazeiro do Norte, Cacique Venâncio e Cacique Pequena (das tradições indígenas), o vaqueiro e aboiador de Acopiara Pedro Coelho, Dona Maria do Carmo (do Pastoril, de Paracuru). E ainda mestra Raimunda Lúcia, bordadeira e costureira, de Trairi; mestra Zilda, dramista, de Guaramiranga; Lucas Evangelista, cordelista, violeiro e cantador, de Crateús, e Mestre Bibi, das esculturas, de Canindé, feliz por participar pela primeira vez do Encontro Mestres do Mundo.

"Tô quase como um cego em tiroteio aqui, no meio de tantos mestres, de tanta categoria", disse Mestre Bibi, autor da famosa estátua de São Francisco localizada em Canindé, com mais de 30 metros de altura. "Sou convidado para trabalhos em todo o Brasil, a partir desse diploma de mestre. Me deu muita credibilidade", destacou, ressaltando a alegria de participar do Encontro. "Eu não achava que era tão legal, que ia conhecer tanta gente boa e competente. Quero vir outras vezes", disse, sob aplausos dos colegas mestres.

Com um carinho de comover, Dona Maria, do Pastoril, descreveu e exemplificou como acontecem as apresentações, desde o tradicional "Boa tarde" aos donos de cada casa. "Temos em Paracuru um pastoril com 45 crianças e adolescentes, que melhoram muito quando passam a participar do pastoril, tiram notas melhores, mudam completamente", apontou, antes de receber os aplausos por sua pequena apresentação, ao lado da filha.

Dona Raimundinha, mestre costureira e bordadeira, falou dos desafios de quem vive dessa arte, se dedicando por um mês para bordar uma camiseta, "que ainda acham que é cara". Ela contou sua trajetória de artista popular que "dá uma de designer, costureira, estilista". Pode me entregar qualquer peça de tecido, que eu desempenho", garante, apontando que cresce a demanda por roupas de renda, também entre os homens.

"Estamos trabalhando na coleção masculina. Quem for lá na feirinha vai ver que a gente tem isso tudo lá. Além dos acessórios, que os jovens gostam muito, estão aderindo, com essa diversificação", destaca Dona Raimundinha.

"Estamos lá, como diz hoje na gíria, conectados a também entrar nesse mundo. A lutar, ser empreendedores da nossa própria arte e fazer com que esse trabalho nos traga a sustentabilidade cultural da nossa região", complementou, antes de declamar um poema de sua autoria: "Viver é caminho a trilhar / Debaixo de um sol ardente / Que queima a gente no amanhecer / Viver é pisar na terra seca ou molhada / É andar na estrada com a fragilidade do ser / Viver é olhar o todo / com o objetivo proposto / no mundo composto / de homens e mulheres fortes e ativos".

Mestre Lucas Evangelista com sua viola, Dona Dina com seu aboio e os caciques Pequena e Venâncio se apresentaram fechando a roda de saberes da oralidade e do sagrado - um momento especialmente marcante para os que participam do Encontro Mestres do Mundo.



Mestres das artes manuais

Já na roda de conversa sobre a arte manual, os mestres falaram sobre seu ofício e mostraram um pouco de seu trabalho. Os pesquisadores Eliza Gunther e Oswald Barroso mediaram a conversa, que teve participação do Secretário da Cultura do Estado do Ceará, Fabiano dos Santos. Participaram da atividade mestres como Raimundo Seleiro, de Nova Olinda; Pedro Balaieiro, de Guaramiranga; e Stênio Diniz, de Juazeiro do Norte. 

Stênio Diniz, xilogravurista, contou sua história. "Minha família fazia tipografia. Nessa gráfica, adulto imprimia e crianças juntavam o papel. Aos cinco anos juntava 10 mil folhas de papel por dia. Achava um saco e escapolia. Ia jogar meu futebol e levava minha peia. A primeira gravura fiz em 1970,após meu pai falecer. Pedi ao meu tio pra fazer uma gravura. Ele disse que eu não sabia, mas eu achava que sabia. Eu roubei a Madeira dele e fiz com canivete a gravura. Mostrei a ele. Ele falou que tinha jeito. Fui ao encontro do mestre Noza pegar Madeira e a partir daí se tornou um vício. Depois comecei a fazer cordel e música. Já rodei muito pelo mundo. Fui 13 vezes pra Alemanha. E deverei ir novamente no próximo ano", contou. 

Já o professor Oswald Barroso falou sobre o saber para além da universidade. "Essa luta pelo saber dos mestres é uma luta cada vez mais vitoriosa. A própria Universidade está reconhecendo esse saber que é mais erudito e mais complexo. A 'Universidade do Planeta' tem mais informação do que qualquer máquina. O Patativa sabia a obra toda dele de cabeça. Tinha um HD maior que qualquer computador. Nós precisamos voltar à natureza e respeitar os saberes de todos os povos. Hoje vocês podem dizer que são doutores, pela Universidade", destacou.


O secretário da Cultura do Estado do Ceará, Fabiano dos Santos Piúba, finalizou com uma fala volta aos mestres. "Minha grande mestra Luiza de Teodoro dizia que na roda a força não se concentra em uma pessoa, ela gira. Ontem, quando chamei os mestres pra roda de abertura, era com esse intuito de que esse saber seja repassado. Devemos estar atentos a todas sabedorias", ressaltou.​​​​​​
PRESS-RELEASE - SECRETARIA DA CULTURA DO ESTADO DO CEARÁ

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